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domingo, junho 19, 2011

Notas dominicais

1. Há dias, o "Libération" notava, com perplexidade, o silêncio das autoridades da generalidade dos países árabes, mesmo dos novos regimes tunisino e egípcio, perante as atos de barbaridade que estão a ser cometidos pelo regime sírio sobre a sua população.  O caso, segundo o jornal, é tanto mais estranho quanto o regime sírio esteve sempre longe de ser popular no seio do mundo árabe.

2. Foram várias as centenas de portugueses que ontem encheram a catedral de Notre-Dame de Paris, na tradicional missa anual que, desde há alguns anos, aí tem lugar, por ocasião das festas portuguesas em França, nesta época. Notei ser gente de média ou avançada idade, apenas com alguns jovens pelo meio. Há semanas, quando tive a almoçar na Embaixada os sacerdotes que trabalham junto das comunidades portuguesas em Paris e seus arredores, foi-me dado perceber que há uma mudança muito importante no comportamento dos portugueses em França face à religião católica, que não favorece o proselitismo nas novas gerações.

3. Foi há um ano que desapareceu José Saramago. É triste dizê-lo, mas cada vez tenho mais a sensação de que o posicionamento ideológico do grande escritor acabou por ser um fator altamente limitativo da fixação, no imaginário nacional, de um legítimo orgulho que o reconhecimento universal da sua magnífica obra imporia. Mas também acho que José Saramago pouco se importaria com isso. E gostei muito da frase de Leonor Barros, no Delito de Opinião, segundo a qual "os escritores não morrem, apenas deixamos de os ver".

4. A posse do novo governo português, num calendário muito curto, justificado pela excecional situação nacional que se vive, demonstra que ainda há margens de flexibilidade na lei que o bom-senso pode mobilizar. Como cidadão, e fazendo as contas ao tempo de decorreu entre a demissão do primeiro ministro e a data em que o novo governo vai tomar posse, acho que deveria ser feito um urgente esforço interpartidário para refletir neste assunto, para dar uma maior modernidade e eficácia ao quadro legal em que estas coisas se processam. Mas tudo isso teria de ser feito já! Dentro de alguns meses ninguém se lembrará de nada, da insensatez dos prazos previstos na nossa legislação para cada etapa. E, quando houver novas eleições, lá estaremos nós a reclamar de novo! Isto faz-me lembrar os discursos feitos, todos os verões, sobre as medidas a tomar quanto às florestas... que só vamos ouvir de novo quando surgirem os novos fogos. Confesso que sinto grande inveja do Reino Unido, que sempre realiza as suas eleições legislativas numa 5ª feira. Logo no dia seguinte, o novo primeiro ministro vai à raínha e, às 14 horas dessa 6ª feira, apresenta-se no parlamento para o seu primeiro debate*.

5. A França é um país em que a questão da energia nuclear, desde o general de Gaulle, passou a constituir um elemento identitário do seu posicionamento internacional, quer a nível da "force de frappe", quer no tocante ao nuclear com finalidades civis. As preocupações ecológicas e a sua retoma por parte de certas forças políticas tem vindo a abrir um debate, se bem que limitado, sobre o nuclear civil. Porém, e curiosamente, a tragédia japonesa teve escasso impacto no modo como a questão tem sido aqui abordada. Não tenho, contudo, a menor dúvida que a atitude radical do governo alemão, no sentido de abolir a produção nacional de energia nuclear até 2020, pelo impacto que acabará inevitavelmente por ter nas reflexões futuras em matéria de uma eventual política energética à escala europeia, vai, a prazo, potenciar de uma revisitação séria do problema em França.

Em tempo: no Reino Unido, como lembra um comentador, da última vez, excecionalmente, a formação do governo demorou três dias. Uma eternidade...

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Clima

Leio hoje que 2010 terá sido um dos três anos mais quentes desde 1850.

No meu tempo transmontano, no máximo de três em três anos, caía neve em Vila Real. Proporcionava "feriados" e garantia ao excelente fotógrafo Marius alguns postais ilustrados. Mas era uma raridade. Agora, praticamente todos os anos, as estradas nortenhas de Portugal são cortadas pela queda de neve.

Não conheço a relevância das "séries" estatísticas, não sou obcecado com o aquecimento global ou o buraco do ozono, mas uma simples leitura empírica diz-me que alguma coisa mudou, desculpem lá!

terça-feira, agosto 10, 2010

A escola do "mas"

Hoje, o New York Times, elogia largamente a política energética de Portugal.

Ora aqui está um momento interessantíssimo para podermos aferir o comportamento, nas próximas horas, do nosso estimado "jornalismo adversativo".

Embora em parte a "banhos", não acredito que essa escola de escrita reticente deixe de assinalar, a par da notícia, tudo o que de negativo puder descortinar para a atenuar: "porém, há que contar que..." ou "não obstante, o jornal não deixa de...", etc.

Era o que faltava alguém andar a dizer bem da atual situação portuguesa - e logo "lá fora"!

segunda-feira, julho 05, 2010

O panorama de Gulbenkian

Na passado sábado, estive em Enclos, perto de Deauville, a acompanhar o presidente da Fundação Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, na inauguração do Parque Gulbenkian, a formalização da doação à região de um espaço natural adquirido por Calouste Gulbenkian, em 1937. Trata-se de uma mistura imaginativa de jardins, prados e bosques, um projeto que revela uma sensibilidade que talvez nos ajude a "ler" melhor a mentalidade do filantropo. A presença do Coro Gulbenkian, vindo expressamente de Lisboa, trouxe uma nota de grande beleza à cerimónia.

A certo ponto da visita, e apontando-me um panorama soberbo que Gulbenkian criara deliberadamente, como linha de harmonia entre duas alas de verde - de imensos e diferentes verdes, que nos ajudam a perceber melhor alguma pintura impressionista -, o delegado local do Ministério francês da Cultura explicou-me que esse panorama, até ao infinito onde é visível, está hoje protegido por lei, sendo insuscetível de ser palco de qualquer construção ou mesmo de um mero rearranjo arbóreo, sem autorização legal, sob pena de procedimento criminal.

"Pobre" país este, a França, cuja paisagem não pode ser beneficiada com a instalação de um qualquer barracão de zinco de cores berrantes, com a graça de uma pedreira a céu aberto ou o girassólico romantismo de uma eólica!

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Clima


"Salvar o planeta ou salvar Copenhague?" pergunta o "Le Monde" hoje.

Esta é uma questão fundamental: se acaso a tentação de obter um acordo a todo o preço na cimeira do clima vier a prevalecer, Copenhague pode fazer bem pior ao mundo do que o "statu quo", com base no qual sempre será possível trabalhar num futuro próximo, num novo esforço político, suscitado pelo fracasso agora constatado. O que, com certeza, não acontecerá se se vier a obter um "acordo de mínimos", ao qual se colarão, por muito tempo, os mais reticentes à mudança.

O que está em jogo em Copenhaga é muito mais importante que o saldo "glorioso" de algumas conferências de imprensa. Esperemos que o bom senso prevaleça.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Migrações


Foi muito oportuna a iniciativa que o International Herald Tribune e a Académie Diplomatique Internationale organizou hoje em Paris, juntando o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, e a jornalista Judy Dempsey. O tema central foi o mesmo que, há dias, aqui referi: "Fleeing the storm: the human cost of climate change".

A questão das migrações é um tema de imensa actualidade, até pelo paradoxo que António Guterres sublinhou: cada vez há mais pessoas forçadas a migrar (por razões económicas, de segurança, climáticas ou outras, muitas vezes conjugadas) e cada vez os Estados fecham mais as suas fronteiras. Para o Alto-Comissário, que se mostrou favorável a uma regulação das migrações à escala global - perspectiva até agora recusada pela Comunidade internacional -, verifica-se uma profunda hipocrisia e irracionalidade por parte dos decisores políticos do mundo desenvolvido. Estes, limitados pelo medo que afecta as suas populações, teimam em não enfrentar as necessidades de mão-de-obra dos seus operadores económicos, as quais, na ausência de uma política de imigração regular, acabam por ser supridas pelo "contrabando" de imigrantes, muitas vezes através de formas de tráfico com ligações criminosas.

Como me dizia um observador atento a estas questões, sentado a meu lado na conferência, tudo tenderá a ser ainda pior com o disparar dos índices de desemprego, por virtude da crise.

Em tempo: ler o que o New York Times traz hoje sobre esta conferência. Aqui.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Clima




A propósito da reunião de Copenhague sobre o clima, António Guterres publica hoje no "International Herald Tribune" um artigo muito interessante em que analisa os efeitos das alterações climáticas nas movimentações forçadas das populações.

No texto, diz uma verdade que às vezes alguns esquecem: "O que se pode dizer, com considerável certeza, é que o impacto da mudança climática será sentido mais fortemente pelos países mais pobres, que são os menos responsáveis pelo fenómeno e que estão menos preparados para lidar com ele".

segunda-feira, março 23, 2009

Água


A Conferência Mundial da Água, que teve lugar em Istambul, acabou ontem - no Dia Internacional da Água - no que já é considerado um fracasso, à luz das respectivas conclusões.

As questões da água constituem uma das mais complexas temáticas do mundo contemporâneo, sendo ignorado por muitos que elas estão já na raiz de alguns dos actuais conflitos. Para além das óbvias dimensões ambientais, as questões da água prendem-se com os problemas da estratégia global em matéria de recursos vitais e, no imediato, estão no centro dos grandes debates em matéria das políticas de desenvolvimento.

Uma das grandes dificuldades em abordar este tema à escala global prende-se com a muito diferenciada dependência dos Estados em matéria de recursos hidrícos, o que conduz a atitudes de egoísmo nacional, que não facilitam soluções de consenso. Por outro lado, e não obstante os chocantes números sobre os efeitos na vida das populações da escassez de água, ainda se está longe de reconhecer o "direito à água" como um direito fundamental no plano multilateral, pelas consequências orçamentais que muitos não querem disso retirar.

Duas notas pessoais.

Não esquecerei nunca a imagem de uma criança, na berma de uma estrada quase deserta, no Uzebequistão, estendendo a quem passava uma garrafa de plástico vazia. Vim a saber ser uma prática regular na região "mendigar" água potável...

A segunda nota prende-se com Espanha. Os nossos principais rios nascem em território espanhol, onde várias regiões autónomas se debatem com sérios problemas em matéria de água e têm tentações de a utilizarem de forma mais intensiva, a montante da sua chegada a Portugal. Recordo a dificuldade com que, na virada do século, nos vimos confrontados numa dura negociação com Madrid sobre o regime dos caudais desses rios. Mas foram-me marcantes, em especial, as tensões que então pudemos observar entre o Governo central espanhol e as autonomias, para fixarem uma posição comum de acordo connosco. A Península Ibérica sofre um acelerado processo de desertificação e, por essa razão, o futuro das águas comuns vai continuar a ser uma tarefa a que a diplomacia portuguesa terá de permanecer atenta.

O outro lado do vento

Na passada semana, publiquei na "Visão", a convite da revista, um artigo com o título em epígrafe.  Agora que já saiu um novo núme...