quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Sporting!!!

... de Braga.

Ainda a língua portuguesa

A nossa língua continua a ser tema recorrente de debate. E ainda bem. Ontem, intervim no I Congresso Internacional de Língua Portuguesa, uma oportuna iniciativa do Observatório da Língua Portuguesa, com participação de representantes de vários Estados em que o português se fala. 

Foi um interessante momento de discussão sobre o modo de promover o estatuto internacional da terceira língua europeia mais falada no mundo, a língua mais falada no hemisfério sul - para usar duas imagens utilizadas por Guilherme Oliveira Martins, que moderou o painel em que participei. Deixei várias "dicas" para o trabalho junto das organizações multilaterais, à luz da minha experiência.

A realidade é que, já hoje, "o crescimento económico fala português", como sugestivamente lembrou a minha companheira de debate, a professora Maria Isabel Tavares. Quando, durante a sua intervenção, mencionou 1973 como o ano em que o árabe ganhou o estatuto de língua oficial das Nações Unidas, não pude deixar de recordar que esse foi precisamente o tempo do "choque petrolífero", em que o mundo percebeu melhor a sua dependência face ao petróleo dos países do Golfo. É que a força institucional das línguas depende muito do poder económico dos países que as falam e as impõem.

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

UTAD

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) faz 25 anos da sua existência.

A UTAD é a universidade de Vila Real, a terra onde eu nasci. Fruto da feliz conjugação da iniciativa de entidades locais - e gostava de distinguir aqui, por elementar justiça, a figura do Engº Manuel Cardoso Simões - com um conjunto de personalidades que haviam tido já um percurso académico nas antigas colónias, a ideia de criar uma estrutura de ensino superior na capital transmontana conseguiu vingar no seu caminho e garantir um espaço de afirmação que, anos mais tarde, veio a consagrar-se na criação da atual universidade.

Muita água passou, entretanto, sob as pontes do rio Corgo. A UTAD evoluiu, transformou-se, cresceu e prestigiou-se, em especial em algumas áreas em que a sua massa crítica soube firmar-se com qualidade. A UTAD criou e agregou a si novos docentes, num conjunto muito alargado de valências especializadas. Dela saíram quadros técnicos de grande valia, hoje espalhados pelo país. Com universidades estrangeiras, a UTAD soube criar importante parcerias de cooperação. 

A UTAD não ficou imune às crises que a vida universitária portuguesa atravessa, elas próprias reflexo do que se passou na generalidade do país. A meu ver, a UTAD tem perdido algum tempo face à inevitável necessidade de vir a redimensionar-se à luz desse novo cenário. Essa perspetiva foi por mim claramente transmitida, tal como por muitas outras pessoas que aí desinteressadamente colaboraram, durante os anos em que chefiei o Conselho Geral da UTAD.

A cidade de Vila Real deve imenso à UTAD. Sou de opinião de que a cidade não soube até hoje criar - e interessa-me pouco saber quem terá a maior quota-parte de culpas - um laço adequado com a sua universidade. Uma coisa me parece evidente: a cidade de Vila Real não seria a mesma sem a UTAD.

Parabéns à UTAD e a quem hoje a compõe, uma casa onde deixei amigos e cujo futuro continuo a seguir com atenção.   

terça-feira, fevereiro 26, 2013

A Europa e o Mediterrâneo

Convidado pela Fundação Luso-Americana participei na manhã de hoje num interessante debate no âmbito do "Mediterranean Strategy Group", organizado pelo "The German Marshall Fund of United States". Coube-me falar no painel "The European crisis and Mediterranean Europe: Economic, social and political challenges", com um ministro grego e um editorialista do "El Pais".

O facto do debate ter sido feito sob a "Chatham House rule" impede-me de focar as posições em confronto com alguns outros integrantes do debate, em alguns casos mesmo no âmbito luso-português... Mas posso dizer que falei dos riscos da situação política, económica e social que se vive em Portugal, do precário estado atual da Europa bem como dos problemas da difícil compatibilidade entre a legitimidade democrática dentro dos países e as preocupações de eficácia dos responsáveis pela conjuntural ajuda externa.

É extremamente estimulante tomar nota de visões bem diversas, algumas do outro lado do Atlântico, sobre realidades relativamente às quais temos opiniões fundadas. É que, concordemos ou não com ele, esse outro olhar integra o cenário exterior com que inevitavelmente temos de nos confrontar.  

Buracos

Aqui há uns anos, recordo-me de ter sido divulgado um número de telefone que podia ser utilizado para chamar a atenção do município lisboeta para buracos que eventualmente aparecessem nas ruas da capital. Uma brigada especial tinha por missão, aparentemente, acorrer ao local e sanar as coisas, em poucas horas ou dias.

Perdi esse número. Alguém mo pode dar? É que, desde que regressei a Lisboa, já descobri alguns milhares de buracos e graves irregularidades nos pisos, com impactos negativos muito fortes nos pneus e suspensões dos carros, para reportar. Será que é apenas porque ninguém telefona?

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Procópio

A cerimónia de entrega podia não ter o "glamour" de Hollywood, mas o espaço à volta do fontenário em frente ao bar enchia-se de gente divertida, naquele único dia de mãos largas em que a "Sedonalice" nos dispensava (limitados) álcoois que fluiam de borla.

Eram os prémios Procópio, consagrados numa estatueta de metal desenhada pelo cartoonista António, a qual, anualmente, era atribuída a figuras da política, da música, das artes, do desporto, etc.

Num livro que foi publicado sobre o bar Procópio, escrevi uma "crónica dos anos 90", onde contei: "por essa época, eram distribuídos com regularidade, na festa estival, os famosos prémios Procópio, sob critérios de justiça que, pelo menos num caso, o autor destas linhas não tem razões para pôr em causa. Sabe-se hoje que malévolas reticências à democraticidade do júri que atribuía tais galardões eram completamente infundadas, dado que a Alice cuidava em seguir à risca um modelo há muito consagrado nas instituições do Burundi, recomendado por uma embaixadora que com ela toma chá."

Quais Óscares qual quê?! Vivam os "Procópios"! Então, Alice, que tal fazer renascê-los este ano, em contraciclo arrogante com a crise?

domingo, fevereiro 24, 2013

Regras de protocolo


Aparições

- Olha lá! Não será que estás a aparecer demasiado? Desde que regressaste de Paris, no fim de janeiro, já te vi um par de vezes na televisão, ouvi-te na rádio, saíste numa revista e no DN, hoje vens longamente no "Público", além de conferências feitas e outras já anunciadas. Não será demais?

- Talvez. Não sei... Limitei-me a aceitar convites que me fizeram. Não pedi rigorosamente nada a ninguém! Recusei mesmo outras coisas. Claro que podia ter dito que não àquilo que aceitei. Mas por que é que havia de fazê-lo? Julgo que é apenas o efeito "novidade". Daqui a dias, vais ver, começo a "desaparecer"...

Este foi um diálogo telefónico com um amigo, esta manhã. Há dias, um outro amigo mandou-me um SMS: "Há muita inveja. Não te exponhas demasiado. Lembro-me de um conselho que me deram: compra carro em segunda mão; nunca digas que vais viajar; usa roupa vulgar e, se possível, já gasta; oferece os presentes que te derem; mesmo que não precises, pede dinheiro emprestado."

Caramba! Terá que ser mesmo assim? Estranho país este...

sábado, fevereiro 23, 2013

Armas da crítica

Descontentes com as políticas que hoje afetam as Forças armadas, que sentem já não serem forças amadas pelos atuais poderes, militares de antigas hierarquias reuniram-se em jantares por onde perpassaram as suas aspirações corporativas.

Vão muito longe os tempos em que o tilintar dos sabres prenunciava borrasca político-militar, intentonas ou pronunciamentos que colocavam a vida quotidiana dos portugueses à mercê da conjugação sediciosa dos humores castrenses. Hoje, com a democracia, nas mãos dos militares apenas tilintam os talheres. Decididamente, invertendo Marx, os nossos militares optaram pelas armas da crítica em saudável detrimento da crítica pelas armas.

Contudo, talvez seja oportuno lembrar que o ambiente de liberdade que hoje vivemos se deve precisamente ao movimento protagonizado pelas nossas Forças Armadas, "coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos", como reza o preâmbulo da Constituição da nossa República. 

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

TVI

A TVI fez 20 anos. Parabéns. É um caso de sucesso televisivo. Goste-se ou não do modelo, há por ali muito profissionalismo.

Esta comemoração, porém, não deve fazer esquecer como tudo começou: a atribuição de uma televisão à igreja católica. Recordo bem como, por todo o país, grupos de fiéis, mobilizados pelas estruturas religiosas, juntaram economias para dar um écran à sua fé, criando uma espécie de Rádio Renascença a cores. Recolhas de fundos levaram alguns crentes fervorosos a venderem os ouros familiares e, em alguns casos, a endividarem-se. Depois, as coisas deram uma grande volta e acabaram assim.

Ínvios são os caminhos dos senhores da mídia.

Atraso?

Há certas pessoas que têm um conflito insanável com os relógios e para quem os horários são sempre referências apenas tendenciais. Várias teorias existem sobre o que estará subjacente à atitude dos endemicamente atrasados. Alguns chegaram a ministros dos Negócios Estrangeiros. Foi esse o caso de Vasco Futscher Pereira, uma das brilhantes figuras da nossa diplomacia.

Era muito difícil fazer "arrancar" o embaixador Futscher Pereira para qualquer compromisso. Como acontece com todos os atrasados, tinha sempre pretextos para ficar mais algum tempo. 

Um dia, Futscher Pereira tinha um encontro ao meio-dia num local que distava cerca de 20 minutos do seu escritório. Os seus colaboradores começaram a ficar preocupados, ao verem o embaixador envolver-se em outras tarefas, à medida que o tempo corria. A certo passo, um deles ousou dizer:

- Já está atrasado para a reunião...

- Essa agora!? Mas que horas são?

- Já são cinco para o meio-dia!

- Mas não me tinhas dito que a reunião era só ao meio-dia? Ainda faltam cinco minutos! Não estou atrasado... 

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Post impopular

Acho triste o contentamento que anda aí em certas hostes com o achincalhamento público e o boicote da palavra de um membro do governo. Em democracia, o direito à manifestação e até à indignação tem sempre de ser compatível com o respeito devido às figuras institucionais e, em particular, o respetivo direito à palavra. Por muito que alguns não gostem de certas autoridades da República, a verdade é que se trata de personalidades que assumiram os cargos que hoje ocupam com plena legitimidade. As formas públicas de expressar o legítimo descontentamento têm assim de ser compatíveis com o quadro de deveres que a democracia impõe. 

Sei que há quem não goste de ouvir isto embora desconfie que, se tocasse "aos seus", a posição dessas pessoas seria diversa.

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Medeiros Ferreira

Com inteligência culta, José Medeiros Ferreira deu ontem uma bela lição de história diplomática contemporânea, na conferência sobre o papel de Mário Soares como ministro dos Negócios Estrangeiros, que ontem proferiu nas Necessidades, a convite do Instituto Diplomático.

Tenho uma limitada esperança de que a totalidade dos auditores possa ter sabido apreciar, à exaustão, esta magnífica prestação e, em especial, algumas sofisticadas subtilezas que lhe estiveram subjacentes. Na sua forma e no seu conteúdo - de há muito aprendi que, com Medeiros Ferreira, as duas coisas são sempre inseparáveis -, esta revisitação dos primeiros tempos do Portugal pós-abril constituiu uma riquíssima interpretação desses tempos conturbados, do ponto de vista de alguém que, tendo sido ator político relevante nesse mesmo domínio, não foi apenas um observador neutral desse período. 

Tendo lido quase tudo o que sobre essa época se escreveu, creio nunca ter visto uma desconstrução tão fina e cuidada sobre a figura diplomática de Mário Soares no contexto da política de descolonização, tendo como cenário de fundo os conflitos, abertos ou subliminares, havidos com Spínola (e, depois, não só com ele) nesse contexto. Pela primeira vez, esta conferência ajudou-me a refletir sobre a evolução do papel político de Soares face à negociação dos processos independentistas. Interessantes também foram as notas sobre o posicionamento de Mário Soares perante a Europa e os EUA, bem como a revelação da (pouca) importância que atribuía às relações com a Rússia e a Europa de Leste.

Medeiros Ferreira só ligeiramente aflorou, para logo se afastar do tema, o tempo em que foi, ele próprio, ministro dos Negócios Estrangeiros do primeiro-ministro Mário Soares. A questão de Israel, que terá estado na origem da sua decisão de sair do cargo, veio à baila nesta conferência, num registo muito curioso, embora apenas para iniciados. Lembrei-me, na ocasião, de uma frase que ouvi Mário Soares dizer a Itzhak Rabin, em 1995: "Foi por causa de Israel que perdi um ministro dos Negócios Estrangeiros". 

Devo dizer que fiquei muito satisfeito por ter tido a oportunidade de ter estado presente nesta conferência e nela observar o meu amigo José Medeiros Ferreira na sua melhor forma. A qual comporta sempre a dimensão polémica que é a sua inigualável imagem de marca.

terça-feira, fevereiro 19, 2013

António Pinto Rodrigues (1947-2013)

Há dias, falei de ti por aqui. No que então escrevi, optei por não colocar nada de definitivo. Porém, já então sabíamos que o destino estava marcado, mas a esperança é sempre uma teimosa saudação à vida, enquanto ela existe. Partiste hoje. Alguém, ao meu lado, me dizia, há pouco, que o sorriso que mostras nesta fotografia era o mesmo de quando nos falavas dos teus filhos ou para eles olhavas à nossa frente. É verdade, é isso mesmo. Viveste para eles, para a Dee e para a tua Mãe. Era esse o teu mundo, um mundo que sempre cultivaste pequeno mas que, para ti, foi sempre imenso. Desde que te conheci, há mais de 45 anos, foste sempre a mesma pessoa - intensa, apressada, impaciente, agarrada ao futuro, com sonhos grandes, assentes numa ética à qual repugnava a mediocridade e o arranjismo. Lembro-me bem - que discussões homéricas nós tínhamos, quando eu andava pela governação e te tentava justificar algumas coisas! - como te desesperava um certo Portugal, que nos atrasava os dias, precisamente o contrário do país moderno e de progresso por que sempre ansiaste. Hoje, o ciclo fechou-se, os teus vão aprender a viver com a riqueza da memória afetiva que neles deixaste. Daqui a uns tempos, em Sande, todos iremos fazer-te uma última despedida. A tua Mãe, a suave dona Irene, para quem tu eras toda a vida da sua vida, lá está, há uns anos, à tua espera. Adeus, António.

Problemas de espaço

Conversa no sábado, com um colega já reformado, numa loja do Chiado.

- Como é que você resolveu o problema dos livros a mais, no seu regresso definitivo a Lisboa?

- Nem me fale! Foi um inferno! Não houve espaço para todos eles. Tive de fazer uma seleção.

- É que eu estou num sufoco. Tenho milhares de livros em caixotes, num armazém. Ainda não sei bem como vou proceder.

Comentário irónico da mulher desse meu colega:

- Vocês nem se dão conta do lugar onde estamos a ter esta conversa. Depois queixem-se...

Estávamos a comprar livros na Bertrand.

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Klaus Hansch

O antigo presidente do Parlamento Europeu, Klaus Hansch, vai proferir em Lisboa uma conferência sobre "O nosso futuro na Europa".

Cabe-me a mim apresentá-lo* e moderar o debate, que terá lugar no Instituto Goethe, no nº 37 do Campo dos Mártires da Pátria, pelas 18 horas de quinta-feira, dia 21 de fevereiro.

A organização pertence à instituição que acolhe o debate, ao Instituto Português de Relações Internacionais e à Fundação Friedrich Ebert.

* Em tempo: a apresentação pode ser lida aqui

Ideologias

Um grupo de cidadãos, já com o apoio garantido de vários deputados da maioria conservadora, vai levar de novo à Assembleia da República a questão do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e contra a mudança de sexo.

Devo dizer que, em tese, a questão tem todo o seu sentido, na lógica de quem a propõe. Se uma decisão foi tomada numa certa direção, nada impede que uma nova maioria venha a concluir em sentido contrário. Basta olhar para as conclusões das nove (9) comissões criadas para avaliar o acidente / o crime de Camarate para termos um retrato da sólida constância de julgamento dos nossos legisladores.

O único aspeto que acho curioso na iniciativa agora avançada é a assumida ideia de que as legislações que agora se procura reverter eram meras "medidas ideológicas". Está-se mesmo a ver que esta nova proposta nada tem de ideológica, longe disso!

Varela Gomes

Cruzámo-nos há dias, à porta de minha casa. Pelos vistos somos vizinhos. Conversámos por uns instantes. Já não via o coronel Varela Gomes há muitos anos.

Varela Gomes foi um mito da luta oposicionista contra a ditadura. Gravemente ferido no fracassado golpe militar de Beja, na noite de 31 de dezembro de 1961, foi detido e julgado com severidade, sofrendo uma longa pena de prisão. Creio que em 1971, fui-lhe apresentado pelo Lino Bicho (que será feito deste meu velho amigo?), num almoço da esplanada da "Casa dos Frangos", em Colares - uma casa dirigida pelo Gil, um velho militante do PCP e pela sua mulher, uma divertida espanhola que teria participado pelos "rojos" na Guerra civil do seu país. Varela Gomes tinha saído da cadeia de Peniche poucos dias antes e recordo-me da sua fragilidade física.

Imediatamente após o 25 de abril, vi Varela Gomes nos corredores do palácio da Cova da Moura. Eu era adjunto da Junta de Salvação Nacional e o coronel dirigia a polémica 5ª divisão, que por ali funcionou por algumas semanas. Com o andamento da Revolução, transformou-se numa das figuras cimeiras da "esquerda militar", a ala do MFA mais próxima do PCP, vindo a ser preso depois do 25 de novembro.

A razão porque hoje falo de Varela Gomes é porque acabo de ler, na biografia de Marcelo Rebelo de Sousa, escrita por Vitor Matos, uma acusação que é totalmente falsa mas que, com regularidade, aparece publicada por aí: a de que, durante a Assembleia do MFA de 11 de março de 1975, o coronel Varela Gomes teria pedido que fosse aplicada a pena de morte aos sediciosos desse dia.

Varela Gomes pode ter todos os defeitos mais aqueles que os seus inimigos lhe queiram apontar, mas não é justo que seja acusado de uma coisa que não fez, em especial desta gravidade. É que eu estava lá, nessa Assembleia, e se alguém defendeu essa medida limite essa pessoa não foi o coronel Varela Gomes. A verdade é só uma.

domingo, fevereiro 17, 2013

Boas notícias

Ontem, ao ver a imensidão de vidros partidos na Rússia, por virtude do meteorito, lembrei-me de um colega, de um determinado ministério, que comigo fazia parte de um grupo de trabalho criado para as relações com os países árabes, nos idos de 76 ou 77, do século passado.

Nesse grupo técnico, procurávamos explorar as possibilidades de trabalho e os "appels d'offres" que íamos recolhendo, informando as empresas e gizando o apoio que podíamos mobilizar através das nossa incipiente rede de embaixadas na área, bem como das Câmaras de Comércio, em que então muito nos apoiávamos. É que, acreditem ou não, a diplomacia económica já de fazia por esses dias... e antes.

A sala de reuniões das "Económicas" do MNE acolhia esse nosso encontro. O tal colega foi dando a sua contribuição para os pontos de situação que fazíamos, país a país, aproveitando o bom ambiente de que Portugal beneficiava da parte desses Estados, como ressaca positiva do 25 de abril. A sua área técnica era muito específica, ligada aos transportes, razão pela qual todos ficámos um pouco surpreendidos quando o vimos intervir sobre uma questão de puro comércio externo:

- Um país onde temos de aproveitar as oportunidades novas que surgiram é o Líbano. Há novos nichos de mercado para certos setores da produção industrial nacional que é preciso explorar já! 

À volta da mesa, ficámos curiosos. Não tinhamos nenhuma informação nova sobre o Líbano, embora então houvesse uma embaixada portuguesa em Beirute, pelo que o representante do Fundo de Fomento de Exportação - antecessor do atual AICEP -, perguntou a que é que, em concreto, ele se referia. A resposta foi esclarecedora:

- Então não viram na televisão? Ontem rebentaram por lá várias bombas, em vários locais. Dizem que está tudo escaqueirado. Parece que os vidros de vários bairros desapareceram por completo. Vocês não acham que isto são excelentes notícias? Temos de alertar a Covina!

A sala rebentou em riso, mas o nosso homem não parecia perceber porquê: mas então a ideia não era boa?

sábado, fevereiro 16, 2013

Fernando Lyra (1938-2013)

Foi pelo "Expresso" de hoje que soube do desaparecimento do meu amigo Fernando Lyra.

Antigo ministro da Justiça e deputado brasileiro, Fernando Lyra presidia à Fundação Joaquim Nabuco quando o conheci, em 2006, por ocasião de um colóquio que a Fundação organizara, com Mário Soares e Dário Castro Alves, sobre o "assalto ao Santa Maria", que havia aportado ao Recife em janeiro de 1961. Entre nós os dois perpassou, de imediato, uma corrente de entendimento e simpatia que, por mais de uma vez, tive oportunidade de renovar, em várias deslocações a Pernambuco. Lembro-me bem da última: um jantar, creio que em 2009, no "Leite", essa magna instituição gastronómica portuguesa no Recife, durante o qual senti o Fernando um pouco cansado, mas com aquele sorriso bom e malandro com que acompanhava as deliciosas histórias de uma existência cheia de vigor e de empenhamento cívico.

O Fernando Lyra ofereceu-me um dia o seu livro "Daquilo que eu sei", com uma amável dedicatória, onde marcou bem a nossa recente amizade. É um trabalho essencial para se entender o percurso de vida do Fernando e, muito em especial, o seu papel no movimento das "Diretas já!" e na candidatura de Tancredo Neves. O fim da censura à imprensa no Brasil tem a marca de Fernando Lyra, como muitas vezes ouvi por lá afirmar. Fernando Lyra é uma figura marcante do regresso do Brasil à liberdade.

Estou certo que o seu grande amigo Mário Soares vai sentir bastante a sua falta. Deixo um abraço sentido à família, em especial a sua mulher, Márcia.

Maduro e a democracia

Ver aqui .