quarta-feira, março 17, 2010

"Língua não tem futuro"...

"A língua portuguesa é muito traiçoeira", dizia Herman José, nos seus bons tempos. A julgar pela forma como algumas coisas que afirmei numa entrevista foram reportadas na imprensa, eu diria que ela é particularmente traiçoeira quando nos referimos à... língua portuguesa.

Ontem, à saída de uma comissão parlamentar, na Assembleia da República, já a caminho de um taxi para o aeroporto, fui "apanhado", num vão de escada, por uma repórter da Lusa. Por uma razão que me escapou, perguntou-me sobre a melhor estratégia para a projeção internacional do Português no mundo. Disse e reiterei várias coisas óbvias e simples, todas de sentido idêntico, aliás corretamente transcritas no "take": "O melhor caminho é a articulação forte entre Portugal e Brasil para a promoção da língua portuguesa nos espaços multilaterais e internacionais"; "o Português tem futuro se for apoiado por todos os espaços, Portugal e Brasil, mas também os países africanos, com a sua influência quer nos países vizinhos, quer no espaço das instituições multilaterais"; "é uma acção conjunta em que todos nós temos que nos empenhar para a projeção do Português".

Num jornal português de hoje o título é "Língua não tem futuro 'sem uma relação frutuosa entre Portugal e Brasil'". O que prevalece, no título, é a suposta falta de futuro para a língua. Estupidez ou desonestidade? Ou as duas? Escolham... E ainda há quem diga que eu me preocupo muito com os títulos.

12 comentários:

Anónimo disse...

É estupidez e é desonestidade.
C'est tout.

Julia Macias-Valet disse...

"A lingua portuguesa nao é traiçoeira", certos jornalistas sim : ((

Alcipe disse...

Não conheces os nossos jornalistas?

Helena Sacadura Cabral disse...

Júlia essa é que é a verdadeira questão. Não é a nuvem. É Juno!

Anónimo disse...

É
Não olhar a meios para atingir fins,
nomeadamente o desesperado impacto do sinistro no ordenamento das palavras...Para dar "Logo" nas vistas

Sendo a entrevista Sua, não havia necessidade...
Isabel Seixas

Helena Oneto disse...

Não é a primeira vez que lhe acontece Senhor Embaixador.
Tal como a televisão e a imprensa escrita, também a Lusa tem maus jornalistas. Mas quando se trata da agência noticiosa oficial, o problema é mais grave... a falta de profissionalismo em (quase) todos os media é alarmante!

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Helena Oneto: A Lusa não teve culpa. A citação está correta. O problema é a forma como alguns jornais tratam os "takes" da agência nos títulos.

Guilherme Sanches disse...

Alguns são míseros vendedores de papel. Outros sabem que para isso, é preciso derrubar árvores.
Venha o diabo e escolha.
Um abraço

margarida disse...

Solução?
- "Não comento!"
:)
Depois passava a ser considerada uma antipática, mal disposta e hermética excelência...
Bem..., existe sempre a correcção.
E a ademoestação...
;)
...e a paciência, excelência, a suprema arte pia...

Helena Oneto disse...

Tem toda a razão Senhor Embaixador. Li o artigo todo no DN. Contudo, mantenho o que escrevi sobre os media e depois de ler o seu post de hoje "Futebois" com o qual estou inteiramente de acordo, reitero o que disse.

Vinícius Portella disse...

Prezado,

Ao que me parece, a imprensa em Portugal não é muito distinta da brasileira. Sobretudo, são grandes vetores de ilogicismos. Afinal, seus "takes" sensacionalistas não se seguem dos fatos. Quando vejo essas "perversões lógicas" tão difundidas, aí sim temo pelo futuro de nossa língua a mercê da estupidez. O futuro da língua está atrelado à qualidade de seus falantes, penso eu.

Um grande abraço,
tenho apreciado muito seus textos inteligentes e sofisticados.

Jorge da Paz Rodrigues disse...

Não admira, pois os maiores "assassinos" da língua portuguesa pululam nos jornais e nas TV's, estando agora na moda o "carjacking", como se não tivéssemos na nossa língua os termos assalto e roubo.

Prezado Embaixador, para a próxima lembre-lhes que já somo 250 milhões no Mundo a falar português.

Um abraço solidário

O outro lado do vento

Na passada semana, publiquei na "Visão", a convite da revista, um artigo com o título em epígrafe.  Agora que já saiu um novo núme...