quinta-feira, dezembro 17, 2009

Convívio



Foi um grupo muito bem disposto da Comunidade portuguesa em Paris, escolhido entre alguns mais velhos de idade, mas todos bem jovens de espírito, aquele que ontem almoçou na Embaixada em Paris. A maioria dessas dezenas de cidadãos, "capitaneados" por uma centenária, nunca tinha estado nas instalações da rue de Noisiel. E gostaram.

Decidimos convidá-los, com ajuda das estruturas associativas e da Santa Casa da Misericórdia de Paris, para um convívio nestas vésperas de Natal. Foram umas horas bem passadas, uma homenagem a alguns dos mais antigos dessa grande e magnífica aventura que foi a emigração para França - gosto da palavra "emigração" e entendo que não devemos ter medo a usá-la.

8 comentários:

Anónimo disse...

Até que enfim que alguém fala de emigração.

é que confesso que me estava a colocar algumas questões existenciais. Quando digo que sou emigrante (digo-o frequêntemente porque deixei o meu pais e escolhi viver e trabalhar num outro) ficam a olhar para mim muito admirados...

Os mais ousados là vão dizendo que agora jà não hà emigrantes, alguns dizem que somos Portugueses radicados no estrangeiro. Não quererà isso dizer: emigrante?

Até hà quem diga, para fugir à questão, que agora somos todos Europeus... Jà antes o éramos, não é?

Com as palavras do Senhor Embaixador, que neste momento também deixou o seu pais para trabalhar em França, e por isso também é emigrante,

Vou poder continuar a dizer, sem complexos (e sem a carga negativa que isso carrega numa certa classe politica portuguesa, que hoje governa, mas que nunca emigrou), que sou EMIGRANTE.

Não por prazer, nem por vaidade. Mas porque a vida assim fez. Naturalmente.

Carlos Pereira

José Barros disse...

O problema da palavra “emigração” é que o português mal sai do seu país como emigrante ao chegar ao país de “acolhimento já é imigrante e aqui é que a porca torce o rabo se me permitem a expressão...
Esta iniciativa de “privilegiar” alguns portugueses que possam nutrir um sentimento de se considerarem esquecidos pelas pátrias é de louvar e, pessoalmente, necessito de desabafar a palavra gratidão.

Helena Sacadura Cabral disse...

Não posso estar mais de acordo com Carlos Pereira. A emigração de braços - no passado - e de cérebros - no presente - são realidades que não vale a pena disfarçarmos com novas nomenclaturas. Haja coragem de assumir o que somos, sem vergonhas. Porque quem procura fazer a vida no estrangeiro é porque a isso se sentiu obrigado. Por necessidade ou por valorização profissional.
Parece que voltámos ao Salazarismo em que éramos "um país em vias de desenvolvimento" e não um país atrazado.
A história repete-se, seja em ditadura ou em democracia. As cores é que são diferentes.
Quando é que seremos um povo orgulhoso do que é e sem vergonha de o ser?
Eu tenho muito orgulho em ser portuguesa, em viver aqui, e em ter tido a chance de poder escolher ficar por cá. Nem todos tiveram essa sorte. E devíamos sentir muito orgulho nesses que, um dia, se viram obrigados a sair e durante anos nos ajudaram a crescer com as suas remessas!

Adelo disse...

Mais um se junta ao Embaixador, ao Carlos Pereira a a todos os que nada têm de se envergonhar por terem emigrado para onde quer que fosse. E hoje é o nosso DIA, o Dia Internacional dos Migrantes, decretado pela ONU em 2000 qundo fez 10 anos a aprovação da Convenção sobre os Direitos dos Trabalhadores Migrantes e suas famílias.
A propósito: Quando é que Portugal, a União Europei e os seus países ratificam essa Convenção da ONU? Será que ela é para ser assinada só pelos países pobres?
Assina um Beirão que, depois de já ter passado por África e outras paragens, se encontra agora emigrado em Lisboa.

Anónimo disse...

Como me identifico com tudo o que foi dito/escrito.
Também ostento com orgulho a Nacionalidade Portuguesa e a possibilidade de viver sempre e comodamente no meu País, embora tenha consciência da mais valia e riqueza cultural que a emigração proporciona.
Isabel Seixas

Anónimo disse...

De facto, esta questão da nomenclatura é reveladora. Porque não se diz que um natural dos Estados Unidos a viver em Paris é um emigrante ? Ou porque se chama um Francês a viver no Senegal um expatriado ?

Para voltar a nossa realidade portuguesa, porque é que é o professor de lingua portuguesa ou o funcionario bancario que se instalam em paris ou Newark não são considerados emigrantes ? E porque se chamam emigrantes a Portugueses que ja nasceram no estrangeiro ? Expressões como "la vêm os emigrantes" e uma série de estereotipos cultivados durante décadas ajudaram a desvalorizar a imagem daquele que partiram por razões economicas. Alguns recusam, por isso, o rotulo.

Ha alguns meses, um eminente professor universitario português (que começou a trabalhar recentemente sobre a "diaspora", nuance) dizia que hoje ja não se deve falar de emigração mas de "experiências transnacionais num mundo globalizado". Devo confessar que muito me custa dizer aos meus pais que ja foram "experiências transnacionais num mundo globalizado" :-)

Bourdieu dizia, por outras palavras, que as classificações ensinam-nos muito acerca daqueles que a utilizam.

Manuel Antunes da Cunha

Helena Oneto disse...

Bonita e louvavel iniciativa de reunir num almoço um grupo de portuguêses idosos. Imagino a alegria dos convivas sobretudo daqueles que pela primeira vez entraram na Embaixada. Mais vale tarde que nunca!

Estou totalmente de acordo com todos os comentarios aqui feitos sobre a emigração. Interessante o que MAC diz sobre a questão de nomenclatura. E verdade independentemente das razões que levaram os portuguêses a emigrar.

Julia Macias-Valet disse...

Ser português em França tem na cabeça de muitos que passar por uma série de clichés.
E quando se chega a França pelo caminho a que os franceses, e mesmo os portugueses, nao estao ainda muito habituados : Concorrer a partir de Portugal a um lugar de Direcçao de Comunicaçao Europeia de uma grande empresa francesa é passarmos a ser olhados como um extra-terrestre.
E neste caso, sera que sou emigrante ? Certamente. Mas ja o era antes. Na minha escola em Lisboa era conhecida pela alentejana. E na minha terra, no alentejo, por Julita a espanholita (em alusao aos anos da minha infância passados do outro lado da fronteira).
Creio que o mais importante é assumirmos com orgulho o que somos.
Sempre que em França me perguntam : -"Vous êtes de quelle origine ?"
Respondo com o maior orgulho : - "Je suis portugaise". E isto apesar de ter hoje a dupla nacionalidade.
Na minha familia nunca ninguém emigrou por isso desde que cheguei a França aprendi a compreender a conotaçao da palavra emigraçao. Sendo sinonimo de gente trabalhadora, no que diz respeito à nossa comunidade, ela é também sinonimo de gente discreta e pouco implicada na vida do pais que a acolhe.
No que me diz respeito decidi investir-me em actividades associativas, talvez para mostrar que a nossa capacidade de trabalho vai muito além do que os franceses estao habituados e por vezes gostariam que continuasse a ser a nossa presença neste pais.

Acho muito simpatico, Senhor Embaixador, da sua parte em convidar os séniors desta aventura a visitarem a rue de Noisiel. Bem haja.

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